terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Palhaço

"Tudo você pode fazer. Mas pode nada dar certo." Essas foram as palavras que mais marcaram minha primeira infância, e acho que única, pois nunca entendi muito bem a divisão de infâncias. A princípio não entendi o que a frase significava, mas não demorou muito até que eu começasse a entender. E entendi, entendi que se algo pode dar errado, dá.

Já não tenho mais tanta nitidez sobre alguns fatos, mas me permito tentar relatar como provei essa teoria.

A primeira vez foi quando me aproximei da primeira menina que gostei. E ela nem era a mais bonita, ou a quase mais bonita. Nem mesmo fazia parte do círculo das mais graciosas, nem das simpáticas.  Sei que essa experiência é normalmente traumática para 10 entre 10 meninos daquela idade (e da atual também), mas nenhum deles termina os primeiros 60 segundos com as calças molhadas. Eu disse molhadas, e não meladas.

Graças a esse evento precisei me ausentar do 1º ano fundamental. Queria me ausentar do infinito fundamental.

Mas ao contrário das crianças normais, não aproveitei o tempo ocioso - na época não sabia o que era ocioso -  para brincar, mas me dediquei aos estudos de humanas.

Como só tinha sete anos, me pus a observar pequenas coisas do cotidiano, das quais um adulto provavelmente já não as percebesse mais. Tentei entender porque minha mãe falava sempre para me agasalhar e não me esquecer do casado, enquanto eu ainda sentia calor. Ou como ela nunca me deixava sair de casa sem um guarda-chuva enquanto o sol brilhava capaz de derreter asfalto. A questão que mais me intrigava era como mães são capazes de chamar espinafres de gostosos. Outra ponto interessante é como as pessoas tentam mimar as crianças mas sem deixá-las fazer o que realmente querem, como sorvete no jantar e escalar estante. Mas claro, eu só tinha sete anos de idade e não era capaz de encontrar respostas, assim como não sou até hoje. Logo, como um estudioso de humanas eu era um fracasso.

Comecei então a apostar nos números já na minha adolescência, mas não sendo bom nem com os trocos de compras. Mas eles estavam presentes na minha vida e se espalhavam por toda a parte. Foi na minha vida recém-adulta que os números chegaram ao auge: zero de namoradas, zero no vestibular, zero de grana.

Então decidi por força maior, optar por algo mais informal. Meu primeiro emprego incluía uma roupa alegre de cetim com uma gama de cores que jamais imaginei encontrá-las na mesma peça de roupa. Me tornei palhaço. Animava festas infantis. Mas as únicas risadas que realmente conseguia arrancar da plateia, era ao final, quando tropeçava em objetos que magicamente surgiam na minha frente.

Obviamente, faltava-me o glamour, a graça, tudo.

Foi então que decidi unir as ciências humanas aos números, as risadas e o palhaço em uma só carreira, me tornei escritor.