Sem ar. Foi assim que ela ficou quando
leu aquelas palavras de confissão dele, tão esperadas, tão inesperadas. Não
sabia o porquê, assim como ainda não sabe. E é nesses momentos que todo o
conhecimento acumulado não é o suficiente para conhecer a si mesma. E entre “decifra-me ou devoro-te”, acabou por
devorada (sem metáforas). Mas dessa vez, em sua própria mitologia, onde a
esfinge não tinha nem 18 anos.
E para ela, não precisava de mais nada,
ele estava ali, diante dela. Estavam livres de qualquer julgamento, qualquer
suspeita, - embora o crime não tivesse acontecido ainda-. Sem máscaras, como
eles mesmos disseram, representando apenas o teatro da vida, a dança. Cumprindo
com seus papéis de macho e fêmea, que embora instintivos, necessitam de certo
ensaio, marcação e preparo. E quem está preparado? Despir-se das máscaras, dos
medos, dos fantasmas (sem ópera, porque nessa trilha só toca rock)... Essa, não
é, definitivamente, uma encenação fácil.
Então, embora as palavras fossem fáceis
de encenar – diz-se tudo ao contrário do que se quer e pronto – o corpo não
mentiria. Teria ele percebido? O respirar, o ruborizar, o olhar... Sim, do
contrário seria negar o óbvio. E apesar de seu relógio só marcar 17, seu desejo
já era meia-noite. Ele tentou ser educado, pediu “por favor”. Mas deu o bote. A
presa desarmada. Pronto, item acusatório executado.
Para ela, apesar do sim, ainda lhe
restava algumas máscaras. Tirá-las ou não? Conflito. Optou pelo não. O não é
sempre mais seguro, embora mais amargo. Elas ainda acabariam por cair mesmo...
Ele se foi. Mas durante horas, o perfume
dele continuava a agarrá-la, beijar-lhe o colo.
E todo aquele filme, ele e ela, se
repetia inúmeras vezes, uma espécie de Lagoa Azul no canal Globo, mas dessa vez
a tela não era a da TV. Aos poucos, o filme repetido foi ganhando um novo
roteiro, novo diretor, nova direção. Era hora de montar novas cenas, cenários,
objetos. O papel principal já tinha ator escalado.
E o novo filme começou: iniciando com um
drama, depois uma pornochanchada rememorando
a década de 70 (boa década), melodrama latino , e terminou no clima de um noir, crimes sem culpa e culpa sem crime – e mais perfume, dessa vez o
dele, do corpo dele, excitante -.
Agora na tela, o que passa é um road movie, porque tudo é uma viagem – e
afinal, eles sabiam que não passaria disso-.
(julho de 2012)
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