quinta-feira, 29 de maio de 2014

Dezessete



Sem ar. Foi assim que ela ficou quando leu aquelas palavras de confissão dele, tão esperadas, tão inesperadas. Não sabia o porquê, assim como ainda não sabe. E é nesses momentos que todo o conhecimento acumulado não é o suficiente para conhecer a si mesma.  E entre “decifra-me ou devoro-te”, acabou por devorada (sem metáforas). Mas dessa vez, em sua própria mitologia, onde a esfinge não tinha nem 18 anos.

E para ela, não precisava de mais nada, ele estava ali, diante dela. Estavam livres de qualquer julgamento, qualquer suspeita, - embora o crime não tivesse acontecido ainda-. Sem máscaras, como eles mesmos disseram, representando apenas o teatro da vida, a dança. Cumprindo com seus papéis de macho e fêmea, que embora instintivos, necessitam de certo ensaio, marcação e preparo. E quem está preparado? Despir-se das máscaras, dos medos, dos fantasmas (sem ópera, porque nessa trilha só toca rock)... Essa, não é, definitivamente, uma encenação fácil.

Então, embora as palavras fossem fáceis de encenar – diz-se tudo ao contrário do que se quer e pronto – o corpo não mentiria. Teria ele percebido? O respirar, o ruborizar, o olhar... Sim, do contrário seria negar o óbvio. E apesar de seu relógio só marcar 17, seu desejo já era meia-noite. Ele tentou ser educado, pediu “por favor”. Mas deu o bote. A presa desarmada. Pronto, item acusatório executado.

Para ela, apesar do sim, ainda lhe restava algumas máscaras. Tirá-las ou não? Conflito. Optou pelo não. O não é sempre mais seguro, embora mais amargo. Elas ainda acabariam por cair mesmo...

Ele se foi. Mas durante horas, o perfume dele continuava a agarrá-la, beijar-lhe o colo. 

E todo aquele filme, ele e ela, se repetia inúmeras vezes, uma espécie de Lagoa Azul no canal Globo, mas dessa vez a tela não era a da TV. Aos poucos, o filme repetido foi ganhando um novo roteiro, novo diretor, nova direção. Era hora de montar novas cenas, cenários, objetos. O papel principal já tinha ator escalado.

E o novo filme começou: iniciando com  um drama, depois uma pornochanchada rememorando a década de 70 (boa década), melodrama latino , e terminou no clima de um noir, crimes sem culpa e culpa sem crime – e mais perfume, dessa vez o dele, do corpo dele, excitante -.

Agora na tela, o que passa é um road movie, porque tudo é uma viagem – e afinal, eles sabiam que não passaria disso-.

 (julho de 2012)
    



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